28 fevereiro 2007

Elas não secam

Marcelo acordou todo estampado e na textura do seu lençol. Levantou. A sola do pé ficou bordô, como o tapete. Esbarrou na cabeceira e ficou com uma mancha amadeirada na altura do joelho. Abriu a porta e as pontas de seus dedos ficaram prateadas. O tapete do corredor tinha um piso diferente. Seus pés mudaram de cor. A porta do banheiro estava entreaberta. Deu de ombro na porta para que ela abrisse. Seu ombro esquerdo ficou branco. Pés azulejados. Abriu a torneira: mão direita acobreada. Água e sabonete roxo: rosto roxo também.

E assim é a complexa e colorida vida de Marcelo. O problema está nas tintas. Elas não secam.

23 fevereiro 2007

Laila. Uma mente assassina.

Laila não podia mais se segurar. Era muito peso na consciência. Precisava contar para alguém que era uma assassina. Mas como os outros reagiriam?

Depois daquela noite, tudo mudou na vida de Laila. Era uma noite estrelada, fria. Laila estava sozinha em casa assistindo “That 70´s Show” e comendo pipoca com molho barbecue.

Um barulho no piso superior da casa. Passos no assoalho. Passos descendo a escada. Coração disparado. Sangue correndo apertado nas veias. Adrenalina. Uma voz familiar. A empregada ainda não havia ido embora. Estranho.

Laila se concentrou novamente no seriado. Aumentou o volume. Tomou um gole de Coca Cola Light Lemon. Deu duas gargalhadas e um grito. “Aaaaaaaaahhhhhh” – gritou Laila. “Aaaaaahhhh! Aaaaaaahhhh!!!” – gritou novamente e com mais intensidade.

Um golpe, dois golpes, 12 golpes. Naquele momento, tudo virou arma para a garota de 12 anos que acabara de descobrir ter uma mente assassina. Caiu no chão o corpo de um semi-cadáver. Mais uma pisada e estava tudo acabado.

Laila sempre odiou aranhas.