08 janeiro 2007

Janete nasceu

Janete nasceu. Cresceu. Foi para a escola. Ensino médio. Faculdade. Pós-graduação. Mestrado. Doutorado. Nenhum trabalho.

Estudar, ela adorava. Fora isso, ficava em casa deitada olhando para o teto. Em estado meio meditativo, meio de hibernação. Ela só comia antes de ir para a aula. E depois.

Tinha tudo o que precisava ao lado da cama. Um penico. Escova e pasta de dente. Um vasinho com água limpa e outro para cuspir.

Olhando para o teto, Janete pensava nos pássaros, na vida, na vida extraterrestre. Visitava países e planetas. Tudo isso enquanto seus pais divorciados a sustentavam.

Aos 42 anos, Janete só havia ficado fora de casa durante suas aulas. Ou na mudança da casa de sua mãe para a casa própria. Casa própria para ficar deitada olhando para o teto. E isso era tudo o que ela fazia.

Na casa de Janete, não havia cozinha. Na casa de Janete, não havia sala. Na casa de Janete, não havia banheiro. Na casa de Janete, só havia quartos.

A casa de Janete tinha camas para todos os humores. O “banheiro da suíte” era todo azul, com uma cama de solteiro, e ótima para dias de stress. A “sala de jantar” era amarelo-chocante, com uma cama king-size, para dias desanimados. A “cozinha” era verde, com uma cama de viúva, onde Janete se sentia em harmonia. E assim por diante.