28 abril 2009

As aparências (e os sintomas) enganam

Felizberto era um cara muito feliz. Ria de tudo. De qualquer piada, não só pra não perder o amigo.
- O que uma abelha disse pra outra?
- Pega no mel!
- Ha! Ha! Ha! Ha! Ha!
- Entendeu? Pega no meu! No mel! Hahaha!
- Ha! Ha! Rrrróinc. Ha! Ha! Rrrróinc. Rrrróinc.

Era uma noite de lua cheia. Felizberto foi jantar com amigos e um prospect de namorada, a Lisa. O casal de amigos dividiu um salmão ao molho de alcaparras com quinoa. Ele pediu pato ao molho de maçã e purê de batata salsa. Sua potencial namorada pediu feijoada.

Ele acabou o prato muito rápido. O outro casal ficou satisfeito em seguida, mas não comeu tudo. Felizberto, que comia pouco normalmente, comeu o que sobrou do prato deles. Lisa comeu só metade de sua feijoada. Feliz pediu pra comer o que sobrou, afinal, já estavam no 10º encontro, e comer restos não é mais tão grave.

Feliz ficou muito alegre depois de tudo comer. Pagaram a conta e foram para um bar. Choppinho vai, choppinho vem. Conversa vai, conversa vem. Felizberto já estava até contando histórias que não se deve contar em público sobre sua viagem aos EUA. De repente, ele começou a se sentir mal.
- Viu, Fê! Bebeu demais!
- Eu? Eu nããão! Ha! Ha! Rrrróinc. Rrrróinc. Vou ao banheiro.

Enjôo. Mas não enjôo de chopp. “Deve ter sido a feijoada.”, pensou. Coceira nos braços, nas pernas, por tudo. Alergia!? Seus pêlos estavam mais grossos e duros. Estranho. Tomou uma água e voltou para a mesa. Ao sentar, sentiu uma dor nas costas, na altura do cóccix. Coçou e sentiu um voluminho. Era algo em espiral. Um saca-rolhas estava no bolso traseiro de sua calça. Estranho!
- Vamos pedir um vinho, então!
- Qual você quer, Linda?
- Pode escolher!
- Hummm. Pode ser esse francês de Lavois Gen.

Pediram ao garçom, começaram a beber. A noite avançava e o frio começava. Felizberto começou a sentir um friozinho. Espirrou. O nariz ficou trancado. Espirrou bastante, assoou o nariz. O nariz ficou inchado. Com sinusite, seus olhos ficaram pequenos. Cada um voltou para sua casa. Estava tarde e ele não queria ficar mais doente.

No dia seguinte, Felizberto foi ao médico: estava com gripe suína.

27 abril 2009

Bendito caroço

A casca verde listrada da fruta no chão revela pouca coisa.
Melancia verde é rosa e tem gosto de água com pouco açúcar. Do tipo que não acalma nem depois de um sustinho com aranha papa-mosca.

Por dentro, a cor porosa cheia de água enche os olhos de gosto de viver. E as sementes que ali moram são felizes criaturas. Contentes por cumprir seu papel na natureza. Alegres por criar interação entre as pessoas.

Põe na boca e gospe. Acerta a cara. No nariz, vale 12 pontos. 50 pontos se acertar no cabelo black power da mocinha do café. Nojento é tirar a semente com o garfo antes de comer. Ou de tirar da boca com a mão, mesmo que discretamente. Nojento é engolir a semente e fazer nascer plantinha na barriga. Ainda é capaz de confundir com gravidez e aí a casa cai.

Melhor cair na terra fértil e continuar enganando as pessoas com seu disfarce infalível. E ser fatiada e esquecida para atrair mosquinha de banana. Um insetinho atrai outro. E vem a aranha papa-mosca e “BU!” pra você. Come melancia e se acalma.

17 abril 2009

5!

- Quanto você quer?
- 5!
- Então, você quer 120?
- Como assim?
- Ora, 5x4x3x2x1 é 120.
- Não, quero 5!
- Então, não são "5!", mas "5.".

16 abril 2009

Pão, não!

- Moça, me vê cinco pãezinhos, por favor?
- Não tem.
- Pode ser pão d’água, se não tiver.
- Não tem.
- Pão de queijo?
- Não tem.
- Nossa. Não tem nada? Acabou? Eu espero.
- Não, não vai dar.
- Por quê?
- Na verdade eu tenho pão, mas não pra você.
- Por quê?
- Ah, moço, sei lá. Porque eu não fui com a sua cara.
- E o que isso tem a ver? Eu estou aqui para comprar pão, não pra ser seu amigo.
- E daí, não gostei de você como cliente.
- Eu não quero ser seu cliente. Depois dessa, não vou exatamente querer voltar aqui. Mas, só o pão de hoje, moça.
- Já disse que não. Tá difícil de entender? … PRÓXIMO!
- Aposto que é porque eu tenho cabelo castanho, né?! Ou são os olhos pretos?
- Talvez. Olha moço, a fila tá grande, faz favor de se retirar?
- Aposto que é só porque eu sou diferente que não posso comprar pão. Por quê? Tenho culpa se eu não nasci ruivo que nem todo mundo?
- Não tem nada a ver. Eu não fui com a sua cara mesmo. E eu não atendo quem eu não gosto. Vai tentar em outra padaria.
- Já é a segunda.
- Paciência. Eu não posso te ajudar. O problema não é meu.
- Isso é discriminação, eu vou ligar pra polícia.
- Quer usar o telefone daqui?
- Como assim?
- Daí, fala que você tá na panificadora da Dona Lurdes.
- Por quê???
- Daí o xerife vai te dar mais atenção.
- Como assim?
- Ué! Ele é marido da Dona Lurdes.
- Ah, é…?!
- Tem certeza que vai querer brigar pelo pão francês?
- Ah, moça, eu só queria levar pão pra casa. Não te fiz nada. Sério. O que está acontecendo com as pessoas?
- Se você continuar me enchendo o saco, eu mesma vou ligar pra polícia.
- Nossa! Tchau, então.
- Fala obrigado e boa noite, mal educado. Alguém aqui te tratou mal? E atenção, tem um segurança ali fora. Vai pedir um francesinho pra ele, vai. Tenta.

O cara sai da panificadora em silêncio, sem dizer obrigado nem boa noite.

- PRÓXIMO! E desculpem pela bagunça desse sujeitinho. Coisa de moreno de olhos pretos, mesmo.