16 abril 2009

Pão, não!

- Moça, me vê cinco pãezinhos, por favor?
- Não tem.
- Pode ser pão d’água, se não tiver.
- Não tem.
- Pão de queijo?
- Não tem.
- Nossa. Não tem nada? Acabou? Eu espero.
- Não, não vai dar.
- Por quê?
- Na verdade eu tenho pão, mas não pra você.
- Por quê?
- Ah, moço, sei lá. Porque eu não fui com a sua cara.
- E o que isso tem a ver? Eu estou aqui para comprar pão, não pra ser seu amigo.
- E daí, não gostei de você como cliente.
- Eu não quero ser seu cliente. Depois dessa, não vou exatamente querer voltar aqui. Mas, só o pão de hoje, moça.
- Já disse que não. Tá difícil de entender? … PRÓXIMO!
- Aposto que é porque eu tenho cabelo castanho, né?! Ou são os olhos pretos?
- Talvez. Olha moço, a fila tá grande, faz favor de se retirar?
- Aposto que é só porque eu sou diferente que não posso comprar pão. Por quê? Tenho culpa se eu não nasci ruivo que nem todo mundo?
- Não tem nada a ver. Eu não fui com a sua cara mesmo. E eu não atendo quem eu não gosto. Vai tentar em outra padaria.
- Já é a segunda.
- Paciência. Eu não posso te ajudar. O problema não é meu.
- Isso é discriminação, eu vou ligar pra polícia.
- Quer usar o telefone daqui?
- Como assim?
- Daí, fala que você tá na panificadora da Dona Lurdes.
- Por quê???
- Daí o xerife vai te dar mais atenção.
- Como assim?
- Ué! Ele é marido da Dona Lurdes.
- Ah, é…?!
- Tem certeza que vai querer brigar pelo pão francês?
- Ah, moça, eu só queria levar pão pra casa. Não te fiz nada. Sério. O que está acontecendo com as pessoas?
- Se você continuar me enchendo o saco, eu mesma vou ligar pra polícia.
- Nossa! Tchau, então.
- Fala obrigado e boa noite, mal educado. Alguém aqui te tratou mal? E atenção, tem um segurança ali fora. Vai pedir um francesinho pra ele, vai. Tenta.

O cara sai da panificadora em silêncio, sem dizer obrigado nem boa noite.

- PRÓXIMO! E desculpem pela bagunça desse sujeitinho. Coisa de moreno de olhos pretos, mesmo.

2 comentários:

Bruno Leite disse...

criticas sociais surreais são um novo filão.

Rodolfo. disse...

Senti raiva lendo isso. A mesma de qndo vc fala uma coisa óbvia, mas ninguém entende - e não é um óbvio pra concordar ou discordar, é um óbvio ululante e pronto. Mas não. Não lhe será entregue o óbvio e então vamos todos perder tempo. Foi isso o que eu senti.