23 novembro 2006

Laggy, a lagarta

Era uma vez uma lagarta. E essa lagarta tinha nome: Laggy.

Laggy era uma amante da Natureza. Acordava feliz todos os dias por saber que havia nascido para viver em meio àquela vasta vegetação. Respirava fundo para sentir a brisa refrescando seu corpinho de 7 cm.

Adorava todo aquele verde, e todos aqueles animais vivendo em harmonia. Afinal, depois do tratado de paz acertado no Bosque Aishô - onde ela morava -, nenhum animal era mais predador. Todos faziam um regime à base de folhas e raízes. Até porque as folhas e as raízes não se mexeram muito na hora de fazer a votação do tratado.

Laggy vivia passeando à procura da planta mais bonita do bosque. Ou da flor mais bonita. Um dia, ela encontrou um botão. Era o mais belo botão que ela já havia visto. A flor deveria ser magnífica. Então, a pequena lagarta resolveu virar um casulo ali na frente, enquanto esperava o botão abrir.

Laggy percebeu que precisava trocar de nome. Casy, talvez. Precisava ir ao cartório. Mas, puxa vida, ela não conseguia se mexer. Decidiu continuar como Laggy mesmo, e trocar de nome quando virasse borboleta. Se chamaria Flying Flower.

Ah, como Laggy estava ansiosa por virar borboleta. Ir ao cartório seria a segunda coisa que ela faria quando deixasse de ser casulo. Afinal, a razão de ela estar ali era ver o esplêndido botão virar flor.

O dia que ela tanto esperava chegou. Mexeu suas asinhas levemente. Abriu os olhos e ali estava a mais bela criatura já produzida pela Natureza. Laggy – muito em breve Flying Flower– não se conteve. Não sabia voar, mas deu um jeito e se esquivou até o topo da bela flor. “Schlurp” – fez a flor, que, na verdade, era uma planta carnívora.

10 novembro 2006

João e o pé de toalhas

João. 40 anos. Solteiro. Nunca quis se casar mesmo, gostava de aproveitar a vida. Dizia que mulher existe para ser mãe ou amiga, mas não esposa.

Vivia muito bem em seu loft duplex. Empresário médio-sucedido. Ao menos, tinha muitas namoradas, ou melhor, amigas.

João não era um cara muito vaidoso. Tinha duas calças para ir trabalhar, uma calça para o final de semana e duas bermudas para o verão. Camisetas? 5 ou 6 no total, e mais um ou dois casacos. Não tinha pijamas, pois, como a maioria dos homens, dormia de cueca.

A única coisa com que ele realmente se importava na vida era as toalhas de banho que usava. Apesar de nunca ter apresentado sintomas de organização excessiva, ele tinha sérios problemas com suas toalhas. Não conseguia usar uma toalha que estivesse um pouco úmida. Ou uma toalha que tivesse cheiro de corpo. Ou uma toalha com fio puxado.

Por isso, João comprava toalhas todas as semanas. Mais precisamente, três, e revezava o uso. Usava uma na segunda e na quinta, outra na terça e na sexta e a outra na quarta e no sábado. Depois do segundo banho com cada toalha, jogava-as fora. No domingo, acabava não tomando banho pois sempre chegava bêbado em casa depois de passar a tarde no bar com os amigos. E no verão, João comprava seis toalhas ao invés de três, pois tomava banho duas vezes por dia.

Um dia, João estava no clube jogando tênis com os amigos. Depois de algumas cervejas, foi tomar banho. Ele entrou sem querer em um vestiário feminino e viu uma mulher enrolada numa toalha. Foi amor à primeira vista.