08 janeiro 2008

Dona Maria

Dona Maria acorda todos os dias às 5:13. Seu despertador em forma de coruja canta por 2 minutos. Ela se levanta, toma uma caneca cheinha de café preto, lava o rosto, troca de roupa e vai trabalhar.

Às 5:47 ela sai de casa. O ônibus chega às 5:50. Ela pega mais um ônibus depois e chega no trabalho às 6:47 (ou 13 pras 7). Entra, abre as janelas, guarda sua bolsa no armarinho dos fundos e pega a vassoura, que também fica nos fundos.

Às 7h, começa a varrer, de dentro pra fora, da esquerda pra direita – que dá sorte. E aiaiai se ela encosta a vassoura no pé. Vai correndo lavar o pé na pia do banheirinho dos fundos, onde ficam a vassoura e a bolsa da Dona Maria.

Ela já tem 37 anos. E está esperando o amor da sua vida. Ele deve ser alto, ombros largos, entre 30 e 40 anos. E precisa ter uma moto. Uma moto preta. Não, preta não, que preto dá azar. Uma moto azul! Ele pode ter uns fios de cabelo grisalhos pra dar aquele charme. Ai, ai... um dia, ele aparece. Quem sabe seja aquele homem ali batendo a campainha, às 7:37.

- Bom dia.
- Bom dia, senhora.
- Senhora, não. Senhorita!
- Senhorita... Que horas abre a loja?
- Às 8h, a atendente já está chegando. É urgente?
- Não... Mais ou menos. Vou esperar aqui fora.
- Imagina. Pode entrar que eu pego uma cadeira pro senhor.
- Senhor? Moço! Sou o Leôncio.
- Leôncio, espera só um minutinho que eu vou pegar a chave lá nos fundos.

Dona Maria, que agora se sente muito mais Maria do que Dona, vai em direção aos fundos. Respira fundo. Leôncio... Até que ele é charmoso. Acho que vi uns fiozinhos grisalhos. Que moço, que nada!

- Pode sentar ali, estou terminando de ajeitar tudo.
- Obrigada, senhora.
- ...
- Senhorita! Senhorita...?
- Maria.
- Prazer, Maria.

8 horas. Onde será que está a Madeleine? Preciso abrir a loja. E o Leôncio ali, esperando, coitado. Acho que vou puxar um papo. Vai que é ele.

- Leôncio, só um pouquinho, a moça já deve chegar.
- Tomara que ela chegue logo...
- Quer um cafézinho?
- Ahm... Aceito, sim. Obrigado, Maria.

Maria, Maria! Ele me chamou de Maria! Ele lembra meu nome. Ai, acho que ele gostou de mim. Leôncio e Maria. L e M. Acho que combina.

- Aqui está o cafezinho. Passei logo que cheguei. Trouxe açúcar e adoçante. Qual você prefere?
- Os dois. Um pouco de cada.
- Que nem eu.
- É?
- Aham. Que coincidência! Essas coisas são incríveis, né!
- É... Amor!
- Amor? Nossa, Leôncio!
- Amor? A gente terminou ontem, Leôncio.
- Mas eu te amo!
- Ama ela? Mas e eu? Eu cheguei antes!
- Me ama, nada.
- Amo. Vamos conversar...
- Mas eu tô conversando com você já. Madeleine, eu tô conversando com ele.
- Maria... leva o cafezinho lá pra trás que essa coisa de misturar adoçante com açúcar faz mal pra ele.

É. Acho que L e M combinam, sim. Mas, pra Dona Maria, não foi dessa vez.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pobre Dona Maria, pobre Madeleine, pobre Leoncio.

Anônimo disse...

hahahahaa...engraçado :)

Anônimo disse...

legal!!!parece um roteiro de curto.
abrax
visinoni

Rodolfo. disse...

gente, que coisa.